quinta-feira, 2 de abril de 2009

Portas trancadas.

- Tá aí ?
- Ahan.
- Abre aqui pra mim.
- Não quero.
- Abre logo. A gente tem que conversar.
- Fala o que você quer falar e vai embora.
- Eu quero olhar pra você.
- Não quero que você me veja assim.
- Você sabe que eu não ligo. Que eu acho até melhor poder ficar com você.
- Mesmo assim. Eu prometi, lembra ?
- Esquece isso. Abre aqui pra mim. Tá frio. E chovendo.
- Peraí.
- Porque você demorou tanto ?
- Eu abri, não abri ? Agora fala logo, que eu não to a fim de ficar de mimimi.
- Porque você ta me tratando assim ?
- Assim como ?
- Você ta sendo fria demais comigo ultimamente.
- Ah, você não lembra de como você anda me tratando, também ?
- Eu não to falando disso. E não tem nada de diferente no jeito como eu te trato.
- Ahan.
- Posso sentar ?
- Tá. Dá pra fazer o que você veio fazer ?
- Desculpa.
- Pelo quê ? Você acabou de dizer que não tem nada diferente.
- Desculpa por fazer qualquer coisa que faça você achar que eu to te tratando diferente. Não é de propósito. Você sabe disso.
- É, eu sei. mas incomoda as vezes, sabe ? Eu gostava do jeito que você era. Do jeito que a gente era. Tudo mudou um pouco demais pra mim ultimamente.
- Desculpa por isso tudo que eu to fazendo você passar. Eu não queria que fosse assim. Mas as coisas também tão difíceis pra mim. Você sabe disso também.
- É, mas tá difícil pra todo mundo. Você sabe que eu não queria que fosse assim. Que eu queria só ficar quieta num canto qualquer.
- É verdade. Então, vai olhar pra mim agora ?
- Você quer realmente isso ?
- Você sabe que eu detesto quando você não me olha nos olhos.
Ela virou. Tinha muita gente dentro daqueles olhos. E não se calavam.
- Eu amo você.
- Eu também.
Escorriam umas poucas gotas de tristeza em sua face.
- Posso dormir aqui?
- Ahan. Tem macarrão na cozinha se sentir fome.
Ela deu um beijo guloso nele. Um pouco por saudade dos três dias em que ele passou fora. Um pouco por alívio dele ter voltado. Um pouco por amar de verdade toda aquela rotina que ele criou pra ela.
- Brigado.
- Pelo quê ?
Um sorriso se desenhando no rosto.
- Você sabe. Isso aqui. Você.
- Você é engraçada as vezes.
- Vou comprar cigarros.
Saiu e sentou no meio-fio. Chorou como há muito não chorava.
- Acredito que a noite estrelada é sinal de bom tempo.
Ele tocou seu ombro. Ela o olhou de baixo. Onde as gotas de chuva caíam, desenhava-se um sorriso.