terça-feira, 4 de janeiro de 2011

inFinito .

Coloquei a chave no portão já carregando o peso do mundo nas costas. Quando te vi no umbral, fumando um cigarro como se me esperasse, as palavras simplesmente saíram em torrente.Mesmo quando eu já havia parado de falar, o olhar que você sustentava era aquele mesmo de boas vindas de quando eu cheguei, até que depois de cinco ou seis segundos eles baixaram até meus pés.
- Cadê seus sapatos?
Eu não sabia. Simplesmente não sabia. Não me lembrava de tê-los colocado, então ao que tudo indicava, eu havia saído sem eles.
- Eu só corri até aqui pra falar com você -arfei. Um sorriso meio brotando, meio sendo apagado pela realidade. Nós dois somos tão ridículos.
Você me olhava daquele jeito que eu sempre odiei, como se me adorasse. Como se visse borboletas brancas saindo de mim. Deu mais um trago no cigarro ainda pela metade e jogou-o no chão. Pisou. Minha alma rasgou naquilo.
Por um segundo foi como se todo o mundo -nas minhas costas- fosse três vezes mais pesado e depois cedesse. Virei farelo.
- Para de ser assim. Não tenta manter essa coisa toda.
Incredulidade. Tudo em você exalava incredulidade.
As vezes só de olhar pra você eu já fico irritada. Como naquela hora.
- Ta bem. -disse por fim, pra mim. E fechou a porta sem fazer ruído.