terça-feira, 9 de junho de 2009

Não te canses de esperar .

- Ah! Querida, por que não disseste que precisavas de mim ?
- Não viestes na última vez. Não te importas comigo.
- Tu estás sendo dura demais. Sabes que não posso atender a todos os teus caprichos. Existe um mundo, meu bem, e a tua vontade implica na vida de outras pessoas. Não sabes que...
- Lá vem tu e teus sermões! Não vês que me canso de ficar aqui sozinha? Todos os dias tu vens e diz-me que lhe chame se precisar. E não vem quando lhe chamo! Achas que sou o quê? Sabes que não gosto de lhe importunar sem razão.
- Desculpe, meu amor. Se soubesse que de fato precisavas de mim, não me demorava tanto. E também, pudera!, com todo o trabalho que tenho, o cansaço me consome.
- Por que vens, então? Já lhe disse que vá descansar. Posso muito bem permanecer sozinha por mais algumas horas. Não quero ser-lhe um incomodo, mas me trancas aqui! Não vejo ninguém além de Neuza, e mesmo assim, somente durante as refeições. Que achas que sou? Não podes tratar-me como um animal!
- Como um animal? Ora! Como podes tu, se comparar a um animal? Tens todos os teus desejos realizados! Nem o mais querido gato, do mais rico rei, viveria de mais luxo que tu. Como podes dizer-me que lhe trato como um animal? Gostaria de ver como tu te sairias sem a minha sombra, para fazer-lhe todas as vontades.
- Não humilha-me a este ponto. Sabes bem que o amo. Bastava-me poder fazer compras ou ir à cidade contigo. O que há, afinal? Que achas que vão me fazer? Matar-me? Pois digo-lhe: se continuas a me manter trancafiada como um animal, me mato!
- Tu não terias coragem.
- Testa-me. Mantém-me aqui por mais um dia e vê se não o faço.
- Pois que seja. Agora, vou. Preciso dormir.

Arrependeu-se no ato de trancar a porta, ao ouvir o som do choro de Guadalupe.
Mas não era homem de voltar atrás.