sexta-feira, 22 de maio de 2009

Dogma .

Sentindo o toque firme de uma mão em seu braço, ela virou-se e olhou-o nos olhos.
- Você está me machucando.
- Desculpe.
- Não é aí que dói.
- Deixa eu ver.
Levantou a manga do casaco e parou. Empertigado, ele lhe lançou o olhar de desaprovação.
- Não fui eu quem fiz isso. Foi você.
E ela se foi, com a mesmo liberdade com que chegou.

sábado, 16 de maio de 2009

Mentira, não acabou.

Sentada na beira de qualquer coisa sólida, com o segundo cigarro nas mãos. Só o vento gelado e o mar inexplorado à frente. E um corpo caminhando na sua direção.
- Você tem outro desses ?
Levantou o rosto pálido e olhou o estranho na sua frente.
- Alguma vez você já pensou em se matar ?
O rosto perplexo do estranho fitando aqueles olhos escuros e sem emoção, enquanto o vento consumia mais rápido o cigarro.
- Desculpe.
Entregou-lhe um cigarro e ele se foi.
Mergulha em seus pensamentos e não percebe cada minuto se passando.
Quando abre os olhos, o cigarro queimando os dedos, o céu já escureceu. Olha para o céu, afinal, foi por isso que chegou até ali.
O céu. E as estrelas tão lindas vistas daquele ponto. Lembrou-se de quando ficaram ali, com os corpos entrelaçados debaixo do céu.
Mais uma vez alguém invadia seu santuário. Era ele.
- Você demorou.
- Desculpe. Trouxe um pouco de vinho.
Ela sorri. Precisava daquilo.
- E então, o que vai ser de nós ?
- Não sei ainda.
E o silêncio. Era por isso que gostavam tanto dali. O silêncio que consumia todos os lugares possíveis.
- Você sabe que é difícil.
- É. Eu acho que sei melhor que você.
Ele fitou-a e percebeu, nesse momento, que a indiferença que ela parecia mostrar era falsa. Viu o desespero nos olhos dela. E a súplica. Mas nenhuma palavra foi dita.
- Por que você tá fazendo isso comigo ?
- Não é de propósito.
- Mas não precisava ser assim. Você sabe que não.
- Você não sabe como é.
- Então me fala. Eu sempre quis saber. Não é só culpa minha, isso tudo.
- Eu nunca disse que era. Não dá mais. Não faz parecer tão ruim.
Agora foi a vez dela. Ele pôde ver a fúria consumindo-a. Sem nenhuma palavra. E depois, sumindo, dando lugar a uma única lágrima que ela não se deu ao trabalho de secar.
- É tão ruim quanto parece. Pode não ser pra você, mas é pra mim. Eu fiz tudo o que pude sem pedir nada, e agora isso. Você não tinha esse direito.
E cada vez mais e mais lágrimas, até que ela escondeu o rosto entre as pernas, soluçando.
- Eu sinto muito.
E ele se foi.
E ela não tentou impedir, seria em vão. Deitou e olhou o céu, enevoado pelas lágrimas.
- Então é esse o meu fim ?
Ironia é tudo o que podia resumir aquele momento.
Envolta por uma bruma, ela se levantou e caminhou em direção ao mar. Quando sentiu a água fria tocar a pele, despertou. Não podia ser assim.
Ainda podia ver o contorno do corpo dele no fim da rua. E correu. Usou todas as suas forças para chegar até ele.
Olhou firme os seus olhos e sorriu.
- Você vai voltar.
E continuou correndo inebriada até onde conseguiu. Gotas de chuva salpicando em todo o seu mundo de desespero.