segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A casa .

A casa está escura na penumbra da noite de verão, não há ninguém em casa ou estão dormindo, você está escondido no vidoeiro frondoso, certo de não estar sendo visto por ninguém, observa a casa e tem um impulso de entrar nela. basta atravessar o gramado sem pisar o caminho de pedra que leva à entrada e assim aproximar-se da janela sem fazer barulho.

caminha pela grama, com cautela, e sobe numa das janelas, a que está ligeiramente entreaberta. entre as cortinas semicerradas, você enxerga o interior de uma sala que está completamente escura, um sofá com algumas almofadas de cores claras, um aparador com objetos reluzentes; parece não haver ninguém ali e não há nenhum sinal dos moradores.

você se movimenta para ver através da outra janela, enxerga uma cama e os contornos de duas pessoas debaixo de uma coberta branca, parecem estar deitados de costas, lado a lado, com os rostos virados para cima, vagamente identificados como dois contornos ovais.

você não os vê fazerem o menor movimento e não escuta ruído de respiração, tão imóveis, que poderiam estar mortos e você começa a acreditar que talvez esteja.

pode ser um casal que tenha cometido suicídio e você hesita em dar o próximo passo, se estiverem mortos é tarde demais para salvá-los, você reluta em intervir, não quer se meter num drama que não lhe diz respeito.

afasta-se da janela, em silêncio, e retorna a posição sob a proteção do vidroeiro.
na verdade, você nunca saiu dele, apenas imaginou o que viu dentro da casa.