segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Luzes de emergência .

Esperava quieta o metrô chegar. Tivera um dia longo e mal podia esperar para mergulhar na banheira quando chegasse em casa. Acendeu um de seus cigarros e, mal deu o primeiro trago, a composição chegou. Apagou-o na parede e deixou-o cair no chão. Sentou-se numa das cadeiras amarelas, o metrô não ficava tão cheio naquela hora da noite. Além dela, somente mais uma dúzia de pessoas. Não se preocupou em olhar em volta, estava tão cansada que dormiria ali mesmo. Ao seu lado, um garotinho distraía-se com um vídeo game barulhento. O metrô parou alguns quilômetros depois, dentro de um túnel. As luzes de emergência se acenderam e as pessoas se agitaram. Lúcia não percebeu. Ela estava tão cansada, que pensou que aquilo fosse um sonho, um devaneio. Afinal, o vídeo game irritante continuava em meio à algumas vozes.
Baixou a cabeça e deixou-se levar pelo devaneio em tons de vermelho.
"O que aconteceu ? Como vamos sair ? As janelas estão trancadas ! O que está acontecendo ? Ajudem-nos !" As frases se formavam na cabeça de Lúcia como se ela fizesse parte de um filme.
"É só um sonho" , falou para si mesma.
O vídeo game parou, as vozes silenciaram-se. Mas tudo ainda era vermelho.
Ouviu uma mulher sussurrar: "Ajudem-me !" Depois, não lembra de mais nada.
Chegou em casa, tirou os sapatos, pendurou a bolsa, ligou a torneira, tirou a roupa, prendeu o cabelo, deitou-se na banheira e fechou os olhos. Lembrou-se do dia estranho que teve, do rosto de algumas pessoas entrando no metrô. Ela estava cansada. Dormiu e sonhou o mesmo sonho de antes. O mesmo vídeo game irritante, as mesmas luzes vermelhas, o mesmo sussurro feminino.

Lúcia nunca mais acordou.