domingo, 2 de novembro de 2008

Moths .

Uma grande mariposa marrom repousava na janela. Julie se perguntava porque ela sempre estava ali. Sempre achara curioso o fato de mariposas estarem por perto em todos os momentos.
Levantou-se tão rápido que sentiu-se tonta, mas não deu atenção à isso. Foi à cozinha e pegou uma xícara de café frio. Ninguém sabia como ela conseguia beber aquele tipo de coisa. Eram duas da tarde, portanto, ainda tinha uma hora e meia para sair.
Sentou-de não chão da varanda, com o laptop no colo. Observou por frações de segundo a mariposa negra que usava como descanso de tela. Checou os e-mails e terminou um relatório.
Na sala, umas poucas caixas com as coisas que iria levar. Ainda havia o que empacotar, mas Julie não podia se dar ao luxo de levar tudo. Também não tinha vontade.
Nas caixas, foram marcadas letras, para indicar o que eram. Nas caixas 'A', estavam livros, CD's e quadrinhos. Nas caixas 'B', estavam alguns pertences pessoais. Nas 'C', roupas.
Ainda restava mais de uma hora até o horário marcado, mas ela decidiu se arrumar. Depois do banho, colocou a primeira blusa que encontrou, prendeu os cabelos num rabo-de-cavalo e foi selar e empacotar o restante das coisas.
Julie não sabia direito se ia sentir falta daquele lugar. Não chegou a conhecer nenhum de seus vizinhos, mas as casas lhe eram simpáticas. Sobretudo, o lugar para onde ia não era tão diferente dali.
Uma buzina soou, seguida de um 'Olá' jovial, uma voz bastante conhecida.
- Ted ! - ela correu em sua direção e abraçou-o.
Ele ajudou-a a colocar as coisas na caminhonete, em meio à uma conversa alegre, fazendo-a esquecer a melancolia que os últimos acontecimentos lhe causaram.
O percurso foi calmo, e uma chuva fresca e delicada os perseguiu por todo o tempo.
Por um momento, Julie teve um lampejo de que não deveria estar ali. Repentinamente, uma mariposa marrom, cujas asas lembravam olhos, entrou pela janela entreaberta do carro e atordoou o motorista a ponto de fazê-lo bater num poste de madeira, que tombou sobre o carro, após o impacto.
Julie não sofreu nem o mais leve arranhão, mas ao olhar para o lado, apavorou-se com a visão que obteve. Seu irmão, Ted, seu único amigo desde que se lembrava, estava morto.
Ted teve uma das mãos decepada por um pedaço do pára-brisas, e seu pescoço fora esmagado pelo volante, que soltara-se, tamanha a força empregada no impacto.
Ela teve que sair pela janela, após tentativas frustradas de abrir a porta. Olhou, mais uma vez, o irmão, que jazia no carro destruído. Uma mariposa pousou em seu ombro, mas ela não percebeu.
Cambaleou pela estrada por algumas horas, até encontrar um vilarejo, onde pediu abrigo ao primeiro ser humano que encontrou, mas não contou-lhe o ocorrido.
Durante a noite, Julie não dormiu, e odiou, com todas as suas forças, a mariposa, que pousara, com toda a sua magnitude, nos umbrais da janela. Observou durante toda a noite os olhos fulminantes da mariposa, odiando até a si mesma.
No amanhecer, foi acordada pelo homem que lhe acolhera, e mais uma vez, omitiu-lhe o ocorrido, dizendo, simplesmente, que havia sido assaltada.
Voltou, depois de três dias, ao local do acidente, mas somente encontrou um pequeno casulo amarelado, que colocou no bolso.
Resolveu continuar os planos que tinha, e mudou-se para a nova casa, tendo o cuidado de deixar o casulo num local onde não seria esmagado. Curiosamente, sua bagagem havia sido entregue, e estava cuidadosamente arrumada.
Pensou por alguns instantes, e concluiu que seria impossível que seu irmão estivesse vivo, então não pensou mais no assunto.
A rotina e o trabalho a fez esquecer do ocorrido.
Alguns dias depois de se instalar na nova casa, quando voltou do trabalho, notou que o casulo havia se rompido, e dera lugar à uma pequenina mariposa negra, cujas manchas amareladas nas asas lembravam o ultimo olhar de Ted.
Resolveu ir novamente ao local do acidente, e horrorizou-se quando o viu.
A caminhonete novamente estava lá, sob o poste de madeira, mas Ted não estava nela, e milhares de cópias de seu olhar de desespero foram espalhas pelo local, disseminados por ainda mais terríveis mariposas negras.