segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Tantos pedidos de desculpas .

Precisava pensar um pouco. Saiu, mesmo sendo quatro da manhã. Certamente conseguiria encontrar um bar aberto. Sentiu frio. Isso não era tão importante agora. Andou oito quadras, até que encontrou algo aberto.
Era um mercado pequeno, que nunca havia reparado, mesmo sendo tão perto de casa.
Comprou um refrigerante e um pacote de biscoitos e sentou-se alguns metros depois, na beira da calçada. Comia vagarosamente, até que reparou num poste de luz em curto. Permaneceu observando a chuva brilhante que dele saía. Ficou assim até o amanhecer.
Não pensara em nada durante esses momentos. Perdeu-se dentro de si.
Com frestas de sol batendo no rosto, acordou do torpor faiscante. Alguns raros carros passavam pela rua, e reparou num mendigo do outro lado da rua. Também nunca reparara nele antes.
Levantou-se, entregou o refrigerante completamente cheio e os biscoitos, faltando somente uma unidade, à ele, com um sorriso no rosto. Permaneceu observando-o comer com gratidão.
Voltou pra casa um pouco feliz. Havia ajudado alguém, ao menos.
Entrou, tirou os sapatos, sentou-se no sofá da janela e, observando a rua, ouviu mais uma vez a mensagem que lhe fizera sair quatro horas atrás. Era uma mensagem longa, não suportara ouvir até o final na primeira vez.
Escutou-a totalmente em silêncio, por duas vezes. Não queria deixar escapar nenhuma palavra, nenhum detalhe. Permaneceu mais alguns minutos no sofá.
Ergueu-se, caminhou até o quarto, onde escreveu em seu travesseiro "DESCULPE POR ENVOLVER VOCÊS NISSO". Foi à despensa, pegou o machado que guardavam para cortar lenha em acampamentos. Ao voltar ao quarto, colocou no rádio sua música favorita, seu último prazer antes de livrar-se. Deitou-se na cama, ao lado do recado e posicionou a lâmina, de maneira que cortasse-lhe a cabeça quando caísse. Soltou-a.
Seus companheiros de quarto retornaram 4 dias depois e, logo ao entrar na casa, embalaram-se na canção repetitiva. Segundo os vizinhos, repetia-se há dias.
A mesma música, o mesmo refrão. A mesma dor.

"What else should I be
All apologies
What else could I say
Everyone is gay
What else could I write
I don't have the right
What else should I be
All apologies. "




All Apologies, Nirvana.